REFLEXÕES SOBRE A CIÊNCIA ESPÍRITA

Argumenta-se que a ciência espírita deve ser compreendida dentro de noções modernas de ciência, com abandono completo de ideias indutivistas (que pregam a ciência começa com uma observação) ou de método infalível de geração de conhecimento científico. Expõe-se uma discussão sobre o objeto da ciência espírita, que não deve ser confundido com o objeto das ciências comuns e do escopo dessa nova ciência. Usando conceitos mais recentes sobre a importância dos paradigmas e teorias no desenvolvimento científico, argumenta-se que apenas quando os princípios espíritas forem aceitos em sua totalidade é que desenvolvimento dessa nova ciência poderá ser plenamente facultado. Um exemplo é dado de desenvolvimento em ciência espírita. Discute-se o objeto, o escopo e os obstáculos ao desenvolvimento da ciência.

Palavras-Chave: ciência espírita, epistemologia da ciência, paradigmas, mediunidade, teorias epistemológicas.

I – INTRODUÇÃO

Segundo Kardec, “o Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”(Kardec, 2008). Essa colocação identifica como objeto dessa nova ciência o Espírito, entendido com “uma das forças da Natureza”, questão #87 de (Kardec, 1994) e que pode ser analisado empiricamente por meio dos efeitos de sua atuação no chamado “mundo corporal” ou “universo material”. Nessa definição simples e concisa de ciência espírita (Chibeni, 1991, 1988a,b), a existência do espírito como elemento organizador é admitida como princípio, embora a inexistência de evidências diretas desse novo elemento, por causa de sua natureza essencialmente diferente da natureza material. Essa enorme “diferença de densidade” e “independência causal” entre o espírito e as coisas do mundo material são a razão porque Kardec afirmou que “a ciência propriamente dita é incompetente para se pronunciar a respeito de questões do Espiritismo” (ver Introdução, Parte VII de Kardec (1994)). Ao afirmar isso, Kardec estava várias décadas à frente das concepções epistêmicas de seus contemporâneos (Chibeni, 1988a, b) que se agarravam a noções meramente indutivistas da ciência e que acreditavam que qualquer fenômeno observado poderia ser reduzido a interações mecânicas entre átomos ou princípios materiais elementares. Portanto, só tem sentido falar em ciência espírita se as direções preliminares dadas por Kardec forem seguidas, o que implica em ter consciência da natureza peculiar do novo objeto de estudo proposto, para o qual metodologias importadas diretamente das ciências ordinárias jamais levariam ao progresso científico sobre tais questões.

Neste texto, nosso objetivo é esclarecer detalhes sobre o novo método de pesquisa proposto por Kardec, a fim de que o conhecimento espírita possa ser usado de forma eficiente na busca de novos fenômenos da Natureza, promovendo, assim, o progresso de conhecimento e não a sua estagnação. Para isso, é importante ressaltar que o Espiritismo dispõe de um conjunto de princípios avançados que podem ser utilizados na explicação de grande quantidade de fenômenos ainda considerados anômalos. Para adquirir essa competência é necessário seriamente assumir a teoria kardequiana, como é praxe no desenvolvimento de qualquer ciência, e não considerá-la como “mera hipótese” ou pior, distanciar-se dela, a partir de um processo autorreferente de “revisão”. “Começar de novo” ou “rever” os princípios espíritas é equivalente a “andar de marcha ré” na pesquisa científica dos fenômenos espíritas e essa conclusão vale para qualquer tipo de conhecimento científico heuristicamente fértil.

II – DEFINIÇÕES DE CIÊNCIA: O PAPEL DAS TEORIAS E O MITO DO “MÉTODO CIENTÍFICO”

A ciência conhecida modernamente [1] é uma construção social e epistêmica complexa para a qual poucas conclusões pretensamente absolutas podem ser sustentadas com êxito. Há um grande debate entre acadêmicos sobre a natureza e fundamentação da ciência, debate que ainda avança e cujos ecos passados no caso das ciências naturais podem ser conhecidos ao se analisar com rigor a grande quantidade de trabalhos em epistemologia de filósofos como Karl Popper (Popper, 2002), Imre Lakatos (Worrall & Currie, 1989), Thomas Kuhn (Kuhn, 1970) e muitos outros (Losee, 1993; Chalmers, 1999). No que segue, trataremos de forma resumida algumas conclusões desse debate que foi antevisto por Kardec na época da codificação.

Uma das motivações para trabalhos em epistemologia da Ciência sempre foi a ideia de que seria possível dispor de um método infalível a partir do qual conhecimento objetivo, genuíno e verdadeiro seria extraído da Natureza. Esse é o “método científico”, sobre o qual muito se fala nos meios populares e laicos (Pinto, 2012), que acreditam que a experiência é a origem e até mesmo o objeto do conhecimento científico (Haak, 2012). Essa concepção popular também descreve o trabalho científico com supostamente “objetivo e metódico”, apenas se identificado com aquilo que poderia ser observável e isento de qualquer interferência em sua gênese. Tal “concepção indutivista”, ver Capítulo 4 em (Chalmers, 1999), está ligada a ideias arcaicas da ciência, quando seu objeto de estudo se limitava a coisas apreendidas pela observação direta dos sentidos. Assim, muitas vezes, essa “objetividade” é confundida com “evidência direta” ou “evidência dos sentidos”, ver Capítulo 1 de (Chalmers, 1999). Além disso, hoje é consenso entre especialistas que é difícil defender a existência de um método científico, e que nem se consiga eliminar do labor científico a influência de fatores subjetivos como preferências pessoais, gostos, culturas e até mesmo inclinações religiosas (Chalmers, 1999). Tais conclusões nascem de uma análise rigorosa de fatos históricos e da postura dos cientistas ao longo da história.

 

Por outro lado, é fato que tais influências não são obstáculo para a produção de conhecimento científico. Pode-se argumentar o contrário, que é justamente pela influência de fatores considerados “irracionais” (experiência de vida, interpretações pessoais, tradição científica, memórias, etc., ver (Tatón, 1957) que os responsáveis por gerar o conhecimento científico conseguem umnecessário nível de criatividade para garantir o pleno desenvolvimento da Ciência. Afinal, a Ciência é construída por cientistas que são, eles mesmos, seres sociais em constante interação e modificação com o tempo. Propostas de explicações radicais e em total confronto com as concepções estabelecidas sempre estiveram presente nas revoluções científicas.

Hoje, há também consenso entre especialistas da área de que a ciência não começa com um experimento, mas com uma teoria [2] (Chalmers, 1999; Kuhn, 1970). São as teorias que orientam explicitamente as propostas experimentais que permitem que se projetem equipamentos para observação indireta de fenômenos (sem os quais não haveria a observação) e que determinam o limite das próprias observações. Quando fatos novos são observados, é necessário que uma teoria apareça para orientar a pesquisa de forma satisfatória. Como e porque meios essa teoria aparecerá é algo que não pode ser enquadrado em nenhum discurso metodológico, pois não há um método de se “gerar” teorias. Porém, falta da teoria é razão suficiente para condenar um novo objeto ao esquecimento ou à sua marginalização [3]. Na falta de uma teoria, qualquer resultado experimental mal feito poderá ser interpretado de forma incorreta. Por isso, é incorreto sustentar que o experimento é base do conhecimento científico, mas que o alvo da ciência é o estudo de um objeto através de teorias que devem obedecer a um conjunto de características, a adequações empírica sendo apenas uma delas. Essa “adequação empírica”, porém, depende do objeto em apreço, variando de objeto a objeto. Um exemplo simples seria defender a adequação empírica para a existência de átomos que não está sujeito, por exemplo, as mesmas regras com que observamos fenômenos na superfície de outros planetas.

A diversidade e variedade de objetos de estudo na Natureza é tão grande que é impossível generalizar quanto ao grau com que se fará tal “adequação”. Assim, por exemplo, enquanto inexistem quaisquer evidências empíricas sobre vida em outros planetas, a comunidade científica crê na existência dessa vida e está seriamente empenhada em desenvolver teorias e métodos experimentais [4] para sua investigação (Kitchin, 2012). Seria estranho que apenas quando essa vida fosse efetivamente observada é que essa comunidade se interessasse em abrir uma nova linha investigativa, mas essa é a conclusão natural da ideia popular de que a ciência começa com a observação de um fato (relacionada por exigência de um equivocado conceito de “objetividade”) ou das vozes que pregam uma restrita adequação empírica, sem se observar inúmeros outros detalhes importantes.

Por outro lado, a teoria epistemológica em (Kuhn, 1970), por exemplo, demonstrou com sucesso que a atividade de pesquisa consolidada se dá por meio de um paradigma [5] que pode ser entendido como o conjunto de teorias (ou a teoria) bem estruturada capaz de congregar gerações de cientistas em torno de um tema. Um paradigma forma um tipo de “passaporte confiável” para solução de determinados problemas. Ele permite escolher – de uma ampla gama de fenômenos e aparentes problemas científicos – quais devem ser estudados daqueles que devem ser desprezados. Na existência de um paradigma, a atividade científica se aproxima de uma “solução de quebra-cabeças”, quando se tem certeza que uma solução será alcançada. O preço óbvio pago por essas vantagens é a restrição de escopo: cientistas não precisam (e nem devem) se interessar por qualquer tipo de problema, mas apenas por aqueles garantidamente tratáveis pelos paradigmas a que eles aderem. A atividade científica torna-se uma tarefa monótona (frequentemente envolve a busca ou aperfeiçoamento de soluções para problemas já resolvidos) e são raríssimas as ocasiões em que “soluções para problemas fundamentais” são sequer procuradas. Como ressaltado por Kuhn, para que a ciência dê resultados, não é possível se dedicar a qualquer tema ou problema que apareça, mas apenas aqueles para os quais exista um paradigma ou teoria bem estruturada que permita que a pesquisa seja organizada de forma eficiente. Isso envolve não só a escolha de uma teoria favorita, mas de uma ampla gama de conceitos chave na forma de uma linguagem própria. O paradigma propicia o progresso, evitando que sempre se tenha que começar “do zero”, quando surge a necessidade de dar solução a um novo problema pertencente ao tema de escopo do paradigma.

A noção de que ciência não se estabelece tão só pelo conhecimento empírico foi sentida por Poincaré (1854-1912) ao proferir que os cientistas “fazem ciência com os fatos, assim como uma casa é feita de tijolos; mas uma acumulação de fatos não é ciência, assim como um conjunto de tijolos não é uma casa” (Poincaré, 1908). Isso porque é a teoria ou paradigma que confere status de ciência a um conjunto de fatos observados, é o paradigma que estipula as regras e procedimentos que devem ser seguidos para se montar experimentos, propor instâncias de observação etc. E, conforme a teoria, tal é a visão que se tem dos fatos. Na grande maioria dos empreendimentos científicos, foi a assunção preliminar de hipóteses e a tentativa de elaboração de teorias que permitiram a construção de novos equipamentos e métodos de investigação. Um exemplo clássico foi o desenvolvimento da teoria atômica na química, não obstante os blocos constituintes da matéria – os átomos – (que são hoje os ingredientes funda- mentais de qualquer descrição química da Natureza), não tivessem sido “observados” experimentalmente até a década de 1930. A doutrina do atomismo (Whyte, 1961), desenvolvida a partir de noções elementares de antigos filósofos gregos, tornou-se crença científica nos séculos que se seguiram ao renascimento na Europa. Reações químicas eram vistas como evidência indireta da natureza fragmentada da matéria a partir de elementos que se combinavam microscopicamente [6], embora provas diretas dos átomos jamais existissem.

Do ponto de vista operacional, muito das publicações em pesquisa moderna é orientado por um processo conhecido como “avaliação por pares” que consiste na verificação da adequação dos resultados de uma pesquisa ao paradigma vigente por pessoas supostamente qualificadas [7] na área de que trata a pesquisa. Seria talvez possível argumentar que esse processo conferiria “objetividade” à prática científica. Porém, esse processo não está isento de subjetividade, uma vez que são conhecidos inúmeros exemplos em história da ciência em que trabalhos com conclusões perfeitamente corretas fo- ram rejeitados, enquanto que trabalhos com conclusões incorretas foram aceitos (Barber, 1961; Löwy, 2002; Townes, 2002). O processo de avaliação por pares é assim um meio aproximado de garantir a qualidade do conhecimento científico [8] gerado e não um método infalível. Sua existência está ligada à questão da qualidade de publicação de resultados e relatórios científicos e não diretamente ao processo de gênese científica.

 

A compreensão do labor científico como organizado e dirigido por teorias e paradigmas permite compreender diversos outros aspectos associados à gênese, escopo, abrangência, evolução e ceticismo na Ciência. Em particular no que tange à evolução, ela não é uma construção “linear” ou “assintótica” como sugerido por (Pinto, 2012) e imaginado ordinariamente, onde o conhecimento é acumulado gradativamente de um estado de não ciência para ciência total. Essa ideia é falsa e está ligada à concepção popular de ciência, fruto da crença de que a ciência se dá por um processo objetivo, gradual e absolutamente isento de falhas. A história da ciência fala de épocas de estagnação no conhecimento científico seguida por surtos de desenvolvimento admirável [9] que são difíceis de serem explicados se a ciência for entendida como um processo linear. Ao contrário, ao se compreender a importância das teorias é que entendemos queapenas aqueles que dispõem da teoria tem competência para fazer a ciência avançar. Como a gênese das teorias, em última análise, é um processo subjetivo (sujeito a inúmeros fatores de coincidência, contexto e motivação), sua evolução jamais será um processo linear.

III – DO OBJETO DA CIÊNCIA ESPÍRITA

Allan Kardec compilou e estabeleceu uma grande quantidade de princípios e leis secundárias que forneceram a base para a doutrina espírita. Essa doutrina tem três aspectos fundamentais [10]: o aspecto científico (representado pela sua proposta de ciência espírita), o aspecto filosófico (que diz respeito às questões morais e outras de caráter filosófico) e o aspecto religioso.

Kardec compreendeu de forma admirável para o seu tempo que o escopo dessa nova ciência não se identificava em nada como aquele das ciências de sua época. Por isso, escreveu este famoso parágrafo:

“As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livre- mente; os fenômenos espíritas repousam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos. As observações não podem, por- tanto, ser feitas da mesma forma; requerem condições especiais e outro ponto de partida. Querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer analogias que não existem. A Ciência, propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso poderá ter.” (Kardec (1994), Introdução, VII, grifos nossos).

Dizendo isso, não rompeu com nenhuma tradição científica existente. Ao contrário, ao propor que os fenômenos psíquicos poderiam ser explicados com bases em uma nova teoria com suporte experimental, ele fez com que fatos até então considerados como pertencentes ao reino do sobrenatural e da religião pudessem ser tratados como fatos científicos legítimos por razões que veremos abaixo. A nova ciência espírita já nascia em consonância com ideias modernas de ciência que concluíram pela inutilidade de conceitos de “método científico”, “indutivismo ingênuo”, e uma equivocada “objetividade”, conceitos que seriam demonstrados como obsoletos por uma plêiade de epistemologistas no século XX (Chalmers, 1999). A justificativa dada por Kardec na citação acima é suficientemente concisa e clara, dispensando maiores detalhamentos.

E, ainda hoje, se muitas pessoas pensam que o conhecimento científico é superior a outros tipos de conhecimento ou práticas (tais como a arte, a filosofia etc) é porque ainda trazem concepções ultrapassadas de ciência, justamente aquelas que acreditam que o conhecimento científico é mais “objetivo”, “quantificável”, “independente de qualquer referência a interpretações subjetivas” como sugere (Pinto, 2012) e, portanto, mais “certo” do que qualquer outro, o que seria suficiente para caracterizá-lo como “superior” diante de outros tipos de conhecimento (Haak, 2012). Ao criar uma ciência já em conformidade com as noções epistemológicas recentes, Kardec estabeleceu também um justo valor a esse conhecimento, o que implica na certeza da existência de limites para ele. Esses limites são definidos dentro doparadigma espírita (Chibeni, 1988a,b, 1994) que, como qualquer paradigma, estabelece restrições severas ao que pode ser pesquisado. A proposta de ciência feita por Kardec também não fere nenhuma premissa do labor científico, uma vez que seu objeto de estudo não guarda relação com aqueles que são estudados pelas ciências ordinárias.

Antes, porém, de discutir essa questão, convém que detalhemos um pouco mais a questão do “objeto” de pesquisa. Em princípio, seríamos levados a pensar que o objeto de uma ciência qualquer diz respeito aos fenômenos tangíveis ou replicáveis que essa ciência pode experimentar no laboratório. A ideia que em geral se faz do “objeto de estudo” de uma certa ciência está fortemente ligada à concepção de ciência que se tem. Assim, para um indutivista extremado (que acredita que conhecimento científico pode ser gerado por um método e começa com uma observação), o objeto de estudo se identifica plenamente com os fenômenos. Se esses não puderem ser diretamente acessados, reproduzidos à vontade ou manipulados em laboratório, haverá compreensão equivocada do status científico de qualquer disciplina que se proponha a estudar algo que não seja diretamente observável, replicável diretamente ou que não se dobre a requisitos de laboratório [11].

Para as teorias modernas do conhecimento, em que uma teoria ou paradigma têm papel fundamental, não se pode falar no objeto de estudo sem referência as construções teóricas, o que implica perda de referência absoluta com os fenômenos. Há uma simbiose entre teoria e experimento, não tem sentido falar de um aspecto sem o outro. Citemos um exemplo: qual seria o objeto de estudo da física quântica? Uma vez que essa ciência postula a existência de partículas e átomos ou entidades microscópicas não acessíveis à observação direta, distanciamo-nos naturalmente da definição meramente fenomenológica na compreensão desse objeto. Assim, a física quântica tem como objeto de estudoentidades postuladas em um mundo microscópico que causam indiretamente determinados fenômenos. A física quântica objetiva estudar as regras e leis que regem o comportamento dessas entidades microscópicas com base nas consequências fenomenológicas observadas seja diretamente [12], indiretamente ou por meio de equipamentos especiais. O mesmo se pode dizer da genética, que postulou a existência de entidades microscópicas, os genes, e que espera inferir um conjunto de previsões de observação para aspectos apreensíveis de seres vivos (objetos macroscópicos) com base na combinação desses genes e regras ou leis específicas que regulamentam essas combinações. Assim, é plenamente possível que o “objeto de pesquisa” de uma ciência, por causa de sua inacessibilidade direta, tenha que ser inicialmente postulado ou inferido por via indireta onde a teoria tem um papel fundamental. Essa inferência indireta é mais a regra do que a exceção. E nem é necessário que o objeto seja muito pequeno ou intangível. Consideremos, mais uma vez, a questão da existência de vida em outros planetas. O fato de não se dispor de uma evidência direta ou observação sobre essa vida não impede que cientistas postulem sua existência e desenvolvam teorias e métodos (Kitchin, 2012) para sua futura investigação [13].

Essa constatação da importância da teoria fez com que se abandonassem radicalmente as descrições de ciência que desprezam ou não consideram o papel das teorias ou paradigmas. Portanto, não se pode falar jamais que o objeto de estudo de uma ciência seja simplesmente o seu fenômeno. Tendo em vista essa nova concepção, podemos compreender com novas luzes o fato de Kardec ter identificado no espírito o objeto de estudo da ciência espírita.

Detalhamos aqui um pouco mais essa identificação. Do ponto de vista dos tipos de manifestação dos objetos a nossa volta, podemos dividir em duas grandes classes fenomenológicas (Chibeni, 2010):

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